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Pesquisa de jornalista da UFPR revela que 74,3% dos jornalistas já realizaram pauta “recomendada”


Foto: A jornalista e pesquisadora Ester Athanásio. Resultados da pesquisa mostram dados preocupantes sobre a profissão. Crédito: Antônio More.

Quase 90% dos repórteres admitem que há interferência editorial de critérios não-jornalísticos



Um pesquisa da jornalista Ester Athanásio de Matos, realizada pelo Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Paraná-UFPR, constatou-se que 74,3% dos jornalistas já realizaram pautas sem relação com critérios jornalísticos, mas de acordo com interesses de veículos de comunicação – visando a objetivo meramente empresarial ou político. De acordo com os dados apresentados, 88,6% dos profissionais entrevistados percebem, porém preferem obedecer ao controle editorial; e 8,5% dos pesquisados admitem acatar as ordens para manter emprego.


Os números revelam ainda que 40% consideram natural a relação de poder na imprensa; e que 27% consideram natural mas prejudicial à atividade jornalística; parte dos entrevistados (34,2%) entende que as pressões ferem o direito do cidadão sempre; e 58% não se sentem protegidos pelos órgãos representantes.


A pesquisa é fruto do seu Trabalho de Conclusão de Curso-TCC. Em entrevista para esta matéria, Ester Athanásio argumenta que a falta de transparência tem sido um dos problemas na mídia atual. “Os meios de comunicação funcionam como um juiz da opinião pública, mas não sofrem a mesma fiscalização nem a transparência necessária. Além disso, carecem de um órgão regulador”. Ela destaca ainda que outro grande problema é a concentração dos veículos de comunicação nas mãos poucos donos, e que isso prejudica não apenas o jornalismo em si, mas a sociedade como um todo, embora reconheça que é positivo veículos com visões diferentes, tornando a informação mais plural.


Na pesquisa, que contou com apoio do Sindicato dos Jornalistas do Paraná - Sindijor-PR, foram entrevistados 277 profissionais no estado. O trabalho abordou pontos que tocam no código de ética do jornalismo brasileiro a respeito de independência, imparcialidade e isenção, no qual também se procurou analisar e fazer as conexões necessárias com as relações de trabalho no meio jornalístico, mas destacando principalmente o controle editorial sobre os critérios de noticiabilidade.


Os resultados da pesquisa constatam que as pressões por manter o emprego ou submissão de outra natureza fazem o jornalista ceder quase sempre. Entretanto, na visão da diretora de redação do jornal Gazeta do Povo, Audrey Possebom, o jornalista que trabalha num meio de comunicação deve conhecer a linha editorial deste veículo e ter a liberdade de escolher se quer ou não trabalhar nele; mas não se deve confundir linha editorial com falta de liberdade ou de imparcialidade. Por outro lado, enfatiza que “o jornalista que faz suas escolhas, influenciado pela aceitação de colegas ou superiores, e não no que vai interessar ao público comete um erro grave”, enfatiza.


Os resultados da pesquisa de Ester Athanásio apontam para um caminho preocupante no jornalismo. Os dados mostram que um lado mais realista e obscuro se esconde por trás do glamour criado em torno da profissão. Revela que além das pressões, há veículos públicos com interesses privados; relações promíscuas entre políticos e repórteres; anunciantes que impõem pautas às diretorias dos meios de comunicação; assessores de imprensa que compram jornalistas com brindes; jornalistas que se vendem por jantares; além de anunciantes que derrubam pautas importantes, com conteúdos e interesses estritamente comerciais.


Uma das garantias conquistadas com o advento da Constituição da República em 1988 foi a liberdade de expressão. Junto com ela veio também a liberdade de imprensa (livre circulação da informação). Mas ao que parece, essa “liberdade” tem sido negligenciada em muitos casos pelos próprios meios de comunicação ao dissociarem da ‘responsabilidade’ e da ética jornalística. Pois quando se veicula certos tipos de informação, maquiando o jornalismo e elevando interesses individuais - sejam de caráter político ou econômico-financeiro,- e em detrimento da informação de interesse público, quem perde com isso não é só o jornalismo. É a sociedade como um todo.


Atualmente a jornalista trabalha junto ao grupo de pesquisadores do Mestrado em Comunicação e Política da UFPR, onde se dedica a pesquisa de maior abrangência. Em breve, serão divulgados novos dados em âmbito nacional.



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